pesquisa e texto de Claudio Falcão
Há muito tempo ouve-se que "há coisas que só acontecem ao Botafogo". Já me perguntaram sobre a origem do 'dito popular', porém não soube e ainda não sei responder. Porém creio que o que passo a narrar a seguir poderia se enquadrar perfeitamente na conhecida citação.
Ao conquistar em 1º de abril de 1967 o título da Taça Brasil de Clubes Campeões de Basquetebol Masculino, o Botafogo credenciou-se a disputar em Antofagasta (Chile) o Campeonato Sul-Americano extra daquele mesmo ano. Já li em algumas publicações (1 - O Glorioso, nº 2, agosto/1975; 2 - Catálogo da 1ª Mostra dos Troféus do Botafogo de Futebol e Regatas, 19 de junho de 1977; 3 - MERCKado Médico, nº 65, maio/1991 - entrevista com o ex-jogador dr. Raimundo Grossi) que o Clube Alvinegro conquistara o Sul-Americano de Basquete de 1967.
Elenco do Botafogo em 1967 (foto: O Globo)
No entanto, em pesquisas que fiz na coleção do Jornal dos Sports encontrei o que se segue, em transcrição literal (os destaques em negrito no texto são meus).
Jornal dos Sports - 3ª feira, 05/09/1967, pág. 2
BOTAFOGO DIA A DIA
Nosso Basquete em Antofagasta
Pela Varig, voo 862, chega hoje, às 21 horas, a Rio, sob a chefia do dirigente Mauro Palmeiro, a última parte da delegação que representou o BOTAFOGO no recente Torneio dos Clubes Campeões Sul-americanos de Basquete, em Antofagasta, no Chile.
Domingo, à noite, retornaram alguns atletas e o técnico Tude Sobrinho, entregando imediatamente ao Presidente Nei Palmeiro, que os aguardava no Galeão, um bonito bronze, simbolizando o Caçador Chileno, a que fez jus nossa representação por se haver colocado em terceiro lugar no certame.
O feito da equipe botafoguense ganha especial realce quando se considera que três de seus mais destacados integrantes, César, Edinho e Peixotinho, não puderam ir a Antofagasta, requisitados que se acham para a seleção universitária brasileira que atua em Tóquio, e ainda que outro titular da equipe, Aurélio, teve que retornar ao Brasil antes de cumpridos os três últimos compromissos, sendo que na partida final, por força de suspensão imposta a Oto e Marcelo, o BOTAFOGO ficou reduzido a oito jogadores: Barone, Ilha, Cianela, Franklin, Luís Amaro, Raimundo, José Antônio e Claudius.
Note-se também que as demais equipes eram verdadeiras seleções e que as arbitragens nos foram desfavoráveis.
Mesmo assim obteve o BOTAFOGO três expressivas vitórias: contra o clube Cidade Nova, do Paraguai, por 66 a 47, contra o Ingavi, da Bolívia, por 62 a 58 e contra o Selecionado de Antofagasta, por 62 a 58, sendo derrotado no segundo jogo, pelo João Batista Alberdi, da Argentina, por 75 a 74, e nos dois últimos compromissos, contra o Tomás Bata, de Santiago, campeão do Torneio, por 61 a 58, e contra o Welcome, do Uruguai, por 77 a 66.
Ainda no Galeão, o técnico Tude Sobrinho assegurou ao Presidente do BOTAFOGO que a equipe encontra-se em condições de defender com galhardia seu título de campeã no campeonato carioca de basquete, já em sua fase inicial.
Foi a primeira 'ducha de água fria', porém não a única. Vejam este noticiário do Jornal do Brasil (mais uma vez destaquei alguns detalhes em negrito).
Jornal do Brasil - 4ª feira, 13/09/1967, pág. 18
Tude acredita que título possa ficar com Botafogo
- Acredito que temos plenas possibilidades de conquistar o Campeonato Sul-Americano oficial, em outubro, caso nosso elenco não sofra desfalques até lá e conte com Peixotinho, César e Edinho, que não puderam ir ao Chile - declarou o técnico Tude Sobrinho, responsável pela equipe de basquetebol masculino do Botafogo, colocada em 3º lugar no recente Sul-Americano Extra, em Antofagasta.
E mais adiante:
- Mesmo desfalcados de Peixotinho, Edinho, César e Aurélio, este nos três encontros finais, conseguimos chegar em 3º lugar, ...
Confirmou-se assim que o Botafogo colocou-se em terceiro lugar no Sul-Americano extra do Chile, mas 'enxergou-se uma luz no fim do túnel', com a declaração de Tude Sobrinho de que haveria em outubro um Sul-Americano "oficial". De fato, ao retornar do Chile, os dirigentes alvinegros passaram a pleitear o patrocínio do Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões, que seria realizado no Rio de Janeiro, pois daqui saíra o último campeão da Taça Brasil. Os dias foram passando, com a equipe do Glorioso disputando o Campeonato Carioca, do qual viria a ser campeã, mais precisamente bicampeã, quando, também no Jornal do Brasil, publicou-se uma nota 'pra lá' de esclarecedora (novamente destaquei em negrito alguns detalhes do texto).
Jornal do Brasil - 4ª feira, 25/10/1967, pág. 18
BOTAFOGO CAMPEÃO
Em ofício recebido da Comissão de Zona da FIBA, a Confederação Brasileira de Basquetebol teve comunicação oficial de que o Botafogo foi designado campeão sul-americano de clubes campeões, por falta de outros concorrentes ao certame, que seria efetivado no Rio, sob o patrocínio do próprio Botafogo.
Em consequência, o atual campeão carioca e brasileiro não precisou jogar para habilitar-se a representar a América do Sul no III Campeonato Mundial de Clubes, previsto para janeiro próximo, nos Estados Unidos.
Creio que mais uma vez pode-se concluir que "há coisas que só acontecem ao Botafogo", pois fomos proclamados campeões sul-americanos de basquetebol masculino de 1967 'por decreto', ou seja, sem disputar uma só partida.
E em janeiro de 1968, reforçado do 'gigante' pivô do basquetebol paulista Emil Rached, com seus 2,23m, porém já sem o excelente jogador Oto, que havia disputado o sul-americano do Chile e que se transferira para a S.E. Palmeiras, o Glorioso partiu para os Estados Unidos, onde, na cidade de Philadelphia, seria realizado o Mundial. O certame contava com a participação da equipe do Goodyear, de Akron (USA), campeão da competição em 1967; do Real Madrid, campeão europeu; do Simmenthal, de Milão (Itália), vice-campeão europeu; além do nosso Botafogo.
Estreamos contra o poderoso Goodyear, no dia 04 de janeiro, sendo derrotados por 84 x 52, saindo da disputa do título, e disputamos em 06 de janeiro o terceiro lugar contra o Simmenthal, que perdera para o Real Madrid, sendo o Alvinegro derrotado por 82 x 54, classificando-se em quarto lugar.
Jogaram e marcaram para o Botafogo:
04/01 - Goodyear 84 x 52 Botafogo
Emil (10), Cianela (8), César (8), Conde (7), Peixotinho (5), Barone (4), Ilha (4), Edinho (4), Luís Amaro (2) e Aurélio.
06/01 - Simmenthal 82 x 54 Botafogo
Emil (13), Conde (11), Barone (10), César (8), Edinho (6), Peixotinho (2), Ilha (2) e Cianela (2).
Foi esta a classificação final do III Campeonato Mundial de Clubes Campeões de Basquetebol Masculino (USA - 1968):
1º Goodyear (bicampeão) - 2 vitórias
2º Real Madrid (vice) - 1 vitória e 1 derrota
3º Simmenthal - 1 vitória e 1 derrota
4º Botafogo F.R. - 2 derrotas
[Fontes: Jornal do Brasil, de 03/01, 05/01, 06/01 e 13/01/1968 e O Globo, de 06/01 e 08/01/1968.]
Muito legal a foto. E o nosso basquete? Será que não vai voltar mais?
ResponderExcluirOlá, Saulo.
ResponderExcluirHá alguns anos o Botafogo só vem disputando as categorias de base, no basquete masculino e o nosso último título estadual na 1ª divisão masculina foi em 1991, portanto, há longos dezenove anos...
Hoje em dia, manter uma equipe competitiva no basquetebol é sinônimo de um grande investimento, que acredito não seja possível ao nosso Clube agora.
Saudações Alvinegras!