quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Meu Botafogo

por Fernando Bihari (*)
escrito para o DataFogo

Fernando Bihari

Minha história no Botafogo se inicia mesmo antes de eu nascer... Meu pai, húngaro, ao chegar ao Brasil nos anos 30 tornou-se Botafoguense, pois a camisa era semelhante à de seu time em Budapeste, o Ferencvaros, com a diferença das listras serem verde e branca ao invés de branca e preta. Logo em seguida comprou o título de sócio-proprietário e passou a seguir o time de futebol e frequentar o estádio de General Severiano.

A piscina original do Botafogo-Mourisco era onde hoje existe a pista de carros em direção ao Túnel Novo, e ali comecei com meus meses de idade a frequentá-la.

Com as obras de construção da pista, a piscina foi fechada e a sede do Mourisco foi construída, com uma piscina e a quadra de basketball e volleyball. Foi quando comecei a nadar, sendo o técnico um argentino de quem não recordo o nome. Estava eu indo muito bem na natação, quando um belo dia, em 1960, o Prof. Delamare - Diretor de Basquete - se aproximou e perguntou se eu, por ser 'muito' alto, gostaria de trocar a água pelo 'chão'.

Eu sempre, nos meus treinos, me aproximava da quadra e ficava 'namorando' a turma treinando basquete e apesar de estar indo bem na natação (nado costas e livre) aceitei imediatamente o convite, larguei a natação e comecei o meu basquete.

O meu primeiro e por sinal também último técnico foi Epaminondas José Leal Filho, o "Baiano" (foto abaixo). Grande técnico e maior ainda como pessoa. Amigo, paciente e conhecedor do basquete.


Em 1961 fui filiado à Federação Carioca de Basquetebol na categoria juvenil, porém como estava no Colégio Nova Friburgo (internato) só vinha ao Rio a cada quinze dias e mal dava para treinar com o time, mas sempre passava no clube e conversava com o Baiano e ele me passava alguns exercícios para praticar no ginásio da minha escola. No Colégio Nova Friburgo fiz parte da seleção da escola (alunos do ginásio e científico) que participava de diversas competições. Em 1965 voltei ao Rio e foi então que fiquei sendo parte do time. Jogavam comigo o Érico, Rogério "Touro", José Antônio "Português", Flamarion, Zecão e outros, que me desculpem não lembrar os nomes... (Coisa da idade! Pode ser o Alzheimer me pegando.). Neste tempo, me lembro como se fosse hoje, saía do Colégio Andrews, rumava para a quadra do Mourisco e treinava com o basquete feminino juvenil; depois era a vez do nosso treino do juvenil masculino, acabando... tomava um pouco de água e participava como sparring no treino da Primeira Divisão feminina (Marlene, Marli, Eugênia, etc.) e então esperava o treino da Primeira Divisão masculina, quando vinham os nossos 'craques e ídolos'. Na Primeira Divisão, no início o técnico era o Tude Sobrinho e o time contava com alguns nomes como Ilha, Sérgio Macarrão, Aurélio e outros. O Sérgio Macarrão (foto abaixo) foi convocado e participou do time olímpico em Tóquio (1964) e me lembro dele contando de um jogador americano que iniciava a bandeja quase do meio da quadra e 'enterrava'! O nome deste jogador era "Doctor J". Quando em 1976 estive estudando nos Estados Unidos pude assistir alguns jogos da NBA e vê-lo jogando pelo Philadelphia 76's. É um dos jogadores mais importantes do esporte não só nos Estados Unidos mas como pelo mundo afora, e até o surgimento de Michael Jordan foi considerado o melhor jogador de basquete de todos os tempos... Mr. Julius Erwing.

Vídeos de algumas 'enterradas' deste 'monstro': http://www.youtube.com/watch?v=rpTfb9SkKaQ


Um dia, o Baiano me chamou em um canto e me entregou um livro sobre um jogador americano, Oscar Robertson, considerado por muitos como o 'Atleta do Século' (no basquete) e me disse: "Vê como ele ensina a dar gancho".

Bem, em 1969 fiquei afastado por causa do vestibular, mas mesmo assim, apesar de não participar do campeonato, treinava ocasionalmente e retornei às quadras em 1970, quando, além de jogar pelo Botafogo, fui da seleção carioca universitária que em 1971 conquistou o título em Porto Alegre. Nesta ocasião um jogador que eu havia assistido, jogando pelo América F.C. estava no Botafogo, o qual posteriormente foi Presidente da Confederação Brasileira de Basquetebol (1997-2009), Gerasime Bozikis, o "Grego".

Tive muitos companheiros de equipe, alguns faço questão de citar, mesmo mais de uma vez, Érico "Lelé" - pegou o apelido de "Lelé" depois que em um jogo em Porto Alegre bateu com a cabeça no suporte da tabela e ficou meio tonto... e 'lelé' -, Rogério "Touro", o grande Chocolate, que veio transferido do Flamengo, Fioravante - que sempre tinha que usar o banheiro antes do jogo para 'evitar fazer m...' na partida -, Grego, o mestre, Zecão, meu irmãozinho, Ivanzinho, Maurício, Canepa, Ilha - que saía no meio do treino para assistir capítulos da novela -, Pedro Carlos - o noivo da Miss -, Cláudio, Aurélio, Barone, Luiz Amaro, Conde, Luizinho, Paulão, Renê (irmão do Macarrão) e mais uma vez tenho que me desculpar por esquecer nomes...

Apesar de já ter citado acima, gostaria de marcar um tributo, realmente muito especial, ao Epaminondas "Baiano", destaque máximo da história do basquetebol do Botafogo.

Preciso, porém, abrir um parêntese a um outro técnico que não só é uma legenda no Botafogo mas, e principalmente, para o basquetebol brasileiro, Togo Renan Soares - "Kanela" - detentor de dois títulos mundiais de basquete e que depois de anos de 'cantadas' conseguiu que eu me transferisse para o Flamengo em 1972 (desde juvenil que ele me 'cantava' para transferir). Em 1974 me transferi para o Club Municipal e disputei os campeonatos de 1974, 1975 e 1976. Parei por um ano e parecia que não iria voltar. Em 1978 eu tinha um paciente muito especial, neto do sócio de meu pai, que era Flamengo e estava com um tumor cerebral maligno. Nesta ocasião eu trabalhava como médico do futebol profissional do América F.C., e o garoto me pediu uma camisa do seu clube. O América jogava contra o Flamengo no Maracanã e após o jogo fui ao vestiário do Flamengo e pedi ao Cláudio Coutinho uma camisa autografada para dar ao garoto que se encontrava no hospital após a cirurgia. Ele chamou o Zico e pediu que todos os jogadores do Flamengo assinassem a camisa 10 para me dar. Até hoje tenho o Cláudio Coutinho como uma lembrança a nunca ser esquecida. Neste ano, voltei ao Botafogo, após uma conversa com o Baiano que estava com dificuldades para armar o time. Eu estava completamente fora de forma após quase dois anos sem jogar ou treinar, mas voltei e joguei mais um ano pelo Botafogo e depois encerrei minha 'carreira' basquetebolística em meio ao campeonato de 1979, jogando pelo Grajaú Tênis Clube, após sofrer ruptura do tendão de Aquiles em um jogo na Gávea.

(*) - Fernando Bihari é médico, residindo atualmente em Toronto (Canadá). Mesmo de longe está sempre atento às notícias sobre o Botafogo. Foi ele um dos retratados no artigo sobre os atletas-médicos do Botafogo em 'outros esportes', como o leitor poderá verificar em http://datafogo.com/2010/03/atletas-medicos-do-botafogo-em-outros.html.

9 comentários:

  1. Muito interessante essa Lebrança do Botafogo.Sou neto do Epaminondas "Baiano" e sem dúvidas é um orgulho ter o nome dele relembrado.. Bela história!

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante essa Lebrança do Botafogo.Sou neto do Epaminondas "Baiano" e sem dúvidas é um orgulho ter o nome dele relembrado.. Bela história!

    ResponderExcluir
  3. Mais ainda quando a lembrança e as palavras elogiosas vieram de um ex-atleta do Epaminondas, não é mesmo, Pedro?

    Saudações esportivas!

    ResponderExcluir
  4. Sem dúvidas,
    hoje infelizmente venho a comunicar seu falecimento( 18/7/12), muita falta vai nos fazer, o grande Baiano! Um excelente técnico e mais do que isso, um excelente avô!

    ResponderExcluir
  5. Olá, Pedro.
    Lamento saber do falecimento do grande Epaminondas.
    Entrarei em contato com um dirigente do Clube, transmitindo o fato.
    E minhas condolências a toda a família e, especialmente, a você.

    Saudações esportivas!

    ResponderExcluir
  6. va com deus meu amigo, sentiremos saudades ......

    ResponderExcluir
  7. O site oficial do Botafogo publicou hoje a seguinte nota:

    Nota de Falecimento

    "Botafogo lamenta morte do Benemérito Epaminondas José Leal

    O Botafogo de Futebol e Regatas lamenta o falecimento de Epaminondas José Leal, Benemérito do clube e ídolo do basquetebol, modalidade pela qual se destacou como atleta e técnico. O clube presta solidariedade aos familiares e hasteia o pavilhão alvinegro a meio mastro.

    O corpo será cremado nesta sexta-feira (20/7), às 9h, no Parque Colina, Niterói".

    ResponderExcluir
  8. Ontem deparei-me com a notícia triste do falecimento do Epaminondas Baiano. Que descanse em paz... uma pessoa extraordinária como Homem, profissional e amigo...

    Fernando Bihari

    ResponderExcluir